sábado, dezembro 26, 2009

Genuinamente

Enquanto a tempestade rugia lá fora,
ela ia dobando, serenamente, a meada
dos afectos, das emoções e de algumas
lembranças. Há muito que cortara os fios
que a ligavam aos ajustes de contas,
ao ludíbrio do supérfluo, aos arrependimentos
de ocasião. Há muito que, sem pressas,
tentava construir uma existência gratificante,
mesmo nos momentos de desilusão ou cansaço
que lhe sobrevinham. Sabia já que ser frágil
não significava ser pequeno; sabia que os seus
temores acabavam sempre por se ajustar à
certeza de que nada acontece por acaso; sabia
que, no meio do mais denso silvado, pequenos
botões de rosa brotavam, ano após ano, como
anunciação de luz, de vida sempre renovada.
Assim, serenamente, dobava, aguardando
o momento justo do grão e da colheita.

AMS

domingo, dezembro 20, 2009

Natal de todos

Quando é Natal
O mundo fica diferente
Não sei o que me faz pressentir
Algo de infinito no existir
Como uma claridade que me encanta
E me faz voltar a mim
Sem fugir dos outros

Quando é Natal
Embora haja uma oração que não rezo
Há um olhar à volta
De tudo o que me cerca
E sem ressentimentos
Liberta do que me faz ser
Diferente do que em mim sou
Na leveza da consciência que se abre
Enfeito o mundo de alegria
Prendo ternura nos rostos
Amizade nos abraços
Sol nas mãos que se dão
Doçura nas palavras
Estrelas no coração

Quando é Natal
Afasto a secura da vida
O engano das ilusões
A poeira das lembranças
Desembrulho o amor recalcado
Dispo-o de artifícios
E num gesto natural
Tento fazer do meu

Do teu
Do nosso Natal
A tal consoada Universal.

AMS