domingo, fevereiro 14, 2010

As Facas

Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.

Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se ma assaltas
E em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Manuel Alegre

PRINCÍPIOS

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice

Fundi uma bala

Fundi uma bala para ti
para te atingir no meu próprio coração
É de pedra, talhada por forçados
É de chumbo, temperada no sangue
É de ferro, temperada no mel
É de minério, talhada
em toscas mordeduras
para mais dilacerar
para que sintas enfim
o que quer dizer morte de amor

Gunnar Ekelöf

domingo, fevereiro 07, 2010

Epigrama

Nunca um dia foi tão amargo
como aquele em que te vi partir.

AMS