sábado, fevereiro 18, 2006

Leio ausência

A tua presença não me conforta - penso centenas de vezes. Para me convencer, certamente…
Porém, se não vens, sinto-me vazia, tão desprotegida, tão frágil. Que intrusos são estes que em mim se pronunciam? Sentires que se julgam devedores? Incerteza? Saudade? Ou o medo de que eu e as lembranças sejamos os únicos habitante do mundo?
Hoje, por que demoras? É difícil tentar explicar-te o que eu própria não consigo compreender. É doloroso. Provavelmente, se eu chegasse tão tardiamente, ninguém notaria a minha falta. De que falsas ilusões se constroem utopias!
Sempre que chegas é como se me fosse oferecido um presente breve, apátrido, quase inacessível. Nunca te entregas completamente. Estás e não estás. Sei perfeitamente, embora tu não o creias, que a vida não é só poesia e frases bonitas. Aprendemos à nossa custa. Em geral, as pessoas preocupam-se tão pouco com os outros. Tu, por exemplo, passas pela minha vida e... não me vês. Fico sempre com a ideia que me condenaste a estar só. A caminhar paralelamente a ti, nas margens do mesmo rio, mas sem nunca nos encontrarmos. Linhas paralelas nunca se encontram...
Por que inventei eu que haverias de ser diferente?! Por que falas sempre sem sorrir?! Por que ofereces apenas palavras perfeitas na sua dureza, na sua exactidão, na sua pontaria?!
Sabes o que me apetece fazer quando não chegas, até mesmo quando chegas? Adormecer. E, na manhã seguinte, renascer deste desamor quase ritual, abrir a janela e dizer - hei-de encontrar o meu caminho. Em alguma parte, alguém me esperará...
E tu, depois de esfumares o cansaço da minha presença, hás-de sentir o peso da minha ausência.

AMS