quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Quem sabe?!

Quem sabe, um dia, vais poder compreender, sem acusar, seguindo as leis do coração, tudo aquilo que não te pude dizer?!
Quem sabe, um dia, vais poder perdoar, percebendo o jogo de encenações que a vida nos propõe, tudo o que ousei ocultar, assustada de cegueira e voos indecisos?!

Quem sabe, um dia, quando as árvores nuas de folhagem, secos os ramos, oscilarem, inquietas, vacilantes, ao sabor do vento, ao prazer do tempo que foge com um esgar de escárnio e alqueivada solidão, tu possas, num lúcido vislumbramento, assomar à verdade, acreditando naquilo que eu não pude mostrar. Que o meu olhar não negou o teu olhar. Que a minha boca fechou as palavras, não por desdém, sequer por orgulho, apenas por recear a frieza da tua. Que o meu sorriso, agora jazendo nas planícies sem fim do esquecimento, somente aguardava que o brilho do teu iluminasse a escuridão de quem, às vezes, sem guia e sem rota, se dava pressa de atingir o exacto momento da união do nada e da plenitude?!
Quem sabe, um dia, quando eu já não existir, possas, enfim, entender, toda a infinita grandeza deste querer, deste sentir?! Quem sabe, um dia, possas acreditar que a minha alma, no derradeiro adeus, no derradeiro suspiro, na milésima de segundo que antecede o depois, pôde, sem pudor, sem receio, confessar, abertamente, que, durante toda a vida, umas vezes vencida, outras vezes erguida, tu foste, és e serás o meu amor!?

AMS