terça-feira, março 18, 2008

O ovo de porcelana

O imprevisto é a prova de que a vida pode e deve ser filtrada com carinho, emoção e humor. E, hoje, amiga Zé, pude constatar que a consistência da nossa existência assenta, sobretudo, numa boa dose de aceitação, disponibilidade e optimismo, dando rédea solta a um sadio anticonformismo e a uma energética imaginação.
Quando cremos piamente que a vida já nos ofertou o seu toque de excentricidade e/ou loucura, que nada mais - sem protocolo íntimo - será capaz de nos extorquir uma gargalhada efervescente e um desejo polémico de olhar para trás com prazer e gratidão, eis que o destino, brincalhão, resolve alterar o nosso horóscopo chinês, elevando-nos, de novo, a um patamar de humor, boa disposição e indisciplina mental.
Ainda estive tentada a mimosear-te com uma fascinante história de amor - tão do teu agrado - mas contive-me: esse espírito pós-modernista é demasiado acutilante, objectivo. Por instantes, outro argumento atraiu a minha desenfreada criatividade - um longo e alcachofrado drama doméstico. Desisti: a tua energia e vitalidade não suportariam lágrimas e suspiros melancólicos, sensaborões.
O dilema instalou-se nesta (minha) alma requintadamente sofredora. Observo atentamente o ovo que me ofereceste - que não é de chocolate - e sinto-me invadida por uma nefasta apatia artística - o criador devorado pelo nada. O teu presente merecia uma ode triunfal e nem uma frouxa historieta o aclama. O teu gesto generoso - sem toque de maquilhagem - comprimido e esticado numa lengalenga repetida e repetida?! Nunca (jamé)!
Luz em excesso não brilha, cega! - costuma dizer, sabiamente, o meu pai. Assim, e como o flash também é luz, fico-me por um "obrigada" ternurento (primeira edição) e um sorriso magistralmente comovido. E brincalhão.

Ana, a solene (mas não imponente).

Nota: Não fiques aflita porque vou já fazer a acta. Nem sempre uma imaginação hiperactiva é sinal de irresponsabilidade.

AMS