Não me troco nem me vendo
Cidadão obediente não é sinónimo de melhor cidadão.Os obedientes servem, quase sempre, qualquer regime ou ideologia, o chamado jogo de cintura, com maior ou menor elegância, com maior ou menor virtuosismo; os segundos - porque não estão inquinados, à partida, dessa espécie de servilismo que mais não é do que a capa que esconde interesses pessoais – têm um conceito de disciplina no sentido mais nobre da palavra – ética, moral, valores.
Não há que confundir: uma coisa é a vontade de ganhar, de progredir, de saber aproveitar as oportunidades; outra coisa, completamente oposta, é adoptar, sem grandes convicções, a não ser aquelas que as circunstâncias aconselham, uma filosofia de sobrevivência para nos mantermos sempre à tona de água. Há derrotas mais dignificantes do que algumas vitórias.
Não sou uma heroína. Não possuo humildade nem grandeza, muito menos sou capaz de assimilar o sofrimento com coragem e resignação. Em última análise, sou uma sonhadora. Em vez de ir à razão das coisas, caminho – quantas vezes sem prudência – por terras de ninguém. Estou, todavia, consciente de que a vida é isto mesmo – se, hoje, respiro com dificuldade, amanhã, provavelmente, respirarei com mais confiança ou mais pausadamente.
Tenho medos que nem sempre assumo. Tento não deixar, no entanto, que eles desviem a minha trajectória, as minhas crenças, os meus ideais. Sim, os meus ideais, mesmo que estes se limitem a mudar o mundo das pequenas coisas. Talvez isto pareça ridículo à maior parte das pessoas. Ridículo seria para mim ser dominada pela voz comum que me dá sempre a impressão de qualquer coisa de incompleto, de amputado, de vazio.
Assim, o não cumprimento da lei, no caso preciso da avaliação (simplex) de professores, não me pesa nem me serve de álibi. A morte tem muitas formas, mas a morte da minha coerência e dos meus princípios é aquela que mais me assusta.
Vou fazer greve. Não entrego os objectivos individuais. Não me troco nem me vendo.
AMS