A ironia
A ironia, esta graciosa coisa que nos faz rir doque dá vontade de chorar...
Este cãozinho que salta preso à tela, atrevido e
reprimido...
A ironia, a minha ironia queria-a eu tão medida
e inteligente, tão rebuçada, tão independente e
tão seca, mesmo, que mal fosse percebida.
Que no ligeiro riso se visse aquiescência, na reserva
simples dúvida, na cortesia aceitação.
Que a minha ironia calada e quase séria fosse
o meu baluarte.
Adormeceu, diriam os sitiantes.
(Sitiantes, rica palavra!)
Os que estão de fora e comentam intenções,
intimidades.
Ó minha ironia, meu cãozinho, a tua voz é um
latido muito pouco musical e breve, quase ríspido,
de puro desenfado.
Ou se o não é, por imperfeitamente educada,
queria eu que fosse!.
Irene Lisboa