domingo, março 29, 2009

Singularidade

A poesia e o amor são simples
não precisam de pensamentos elevados
nem de dores surdas
muito menos de dores sonantes.

Basta-lhes um sulco vibrante na mente
cor e ritmo no coração.

AMS

sábado, março 21, 2009

Puro arbítrio

De ti
apagaria
as áridas arestas
se,
quando a dúvida
mancha as arcadas
do sonho,
tu me decifrasses
a folhagem
da palavra atenta,
exacta.

AMS

sexta-feira, março 20, 2009

Coleccionadores e borboletas

Há histórias de vida que fazem sucesso. Não é o meu caso já que apenas aprendi a ouvi-las com uma certa ironia na alma. E, algumas vezes, com um pouco de ternura também.
Nós, mulheres, gostamos de histórias, ainda que sem qualquer final feliz, trágico, surpreendente. Ou talvez por isso. Histórias sensíveis e tristes, renegadas, amaldiçoadas mas sempre bem-intencionadas. Histórias que nos fazem sentir maternais, amorosas, cúmplices, de uma feminilidade esplêndida.
A última que escutei falava de borboletas, da efemeridade desses belíssimos insectos e de um coleccionador destas frágeis criaturas. Alguém que adorava o voo tonto, ingénuo das mesmas, as suas cores invocando fantasias e ilusões, a sua paradoxal necessidade de estancar a liberdade num dulcíssimo fruto e de a transformar em desilusão.
Os coleccionadores, sobretudo os que adoram borboletas, comportam-se sempre do mesmo modo com todas elas: observam-nas, cortejam-nas, seduzem-nas com promessas de eterna devoção, carinho, desvelo, e quando as pobrezitas se dão conta estão preciosamente, amorosamente "alfinetadas" num qualquer catálogo de exposição.
Enfim, o velho jogo de procura e encantamento, encontro e esquecimento. Prosaico? Certamente. É necessário, porém, perceber que o que faz correr o coleccionador é a ânsia de encontrar a borboleta única, aquela que satisfaça o seu sonho, o seu capricho sempre mais exigente, sempre impossível. Tal borboleta não existe, claro. Não passa de um pretexto, de uma justificação que se pretende racionalmente exacta. Na realidade, o que ele procura – mas se nega a aceitar – não é senão o desejo de um recomeço, de uma outra vida que lhe proporcione a satisfação e a felicidade que nunca encontrou porque, todo-poderoso, nunca admitiu o mínimo esforço da sua parte para as alcançar. Tudo, na sua vida, está bem porque não poderia deixar de estar, esquecendo-se de que pior do que uma vida infeliz é uma vida insípida onde não há nenhuma alteração em perspectiva - se não dá em nada, então não dá em nada. Ponto final.
A sensação de triunfo ou de derrota tem fronteiras muito ténues. Nem sempre é possível inverter a marcha ou, se isso acontece, é quase sempre tarde de mais.
No fundo, borboletas e coleccionadores não passam de um reflexo das expectativas de uns e de outros. Mas, mais tarde ou mais cedo, a peça acaba e o pano desce.

AMS

segunda-feira, março 09, 2009

o pólen também se esgota

no tempo dos dias felizes - inesgotáveis
nada nos distinguia um do outro
porque o amor estava cheio de
respostas carregadas de frescura

o meu corpo era o teu corpo
a tua boca a fonte certa
que saciava a minha sede
as tuas carícias a rebentação
concisa de ondas de prazer
o teu olhar o íntimo desprender
de água doce que me cingia sempre
devagar como um início que se
demora na alma - que mora na alma
e nunca se esgota

no tempo dos dias sem névoa
havia estrelas e luar e um bem
querer que nunca se cansava
porque soava azul dentro de nós

no tempo dos dias da mais acesa certeza
tu eras as horas boas - as horas más
e eu o pássaro que bebia nos
teus abraços toda a amplitude do mundo.

AMS

quinta-feira, março 05, 2009

El Maestro

Con el alma en una nube
y el cuepo como un lamento
viene el problema del pueblo
viene el maestro
el cura cree que es ateo
y el alcalde comunista
y el cabo jefe de puesto
piensa que es un anarquista
le deben 36 meses
del cacareado (mento)
y el piensa que no es tan malo
ense?ar (toreando )un sueldo
en el casino del pueblo
nunca le dieron asiento
por no andar politiqueando
ni ser portavoz del cuento
las buenas gente del pueblo
han escrito al menisterio
y dicen que no esta claro
como piensa este maestro
dicen que lee con los ni?os
lo que escribio un tal Machado
que anduvo por estos vagos
antes de ser exilado
les habla de lo inombrable
y de otras cosa peores
les lee libros de versos
y no les pone orejones
al explicar cualquier guerra
siempre se muestra remiso
por explicar claramente
quien vencio y fue vencido
nunca fue amigo de fiestas
ni asiste a las reuniones
de las damas postulantes
esposas de los patrones
por estas y otras razones
al fin triunfo el buen criterio
y al terminar el invierno
le relevaron del puesto
y ahora las buenas gentes
tienen tranquilo el sue?o
porque han librado a sus hijos
del peligro de un maestro
con el alma en una nube
y el cuerpo como un lamento
se marcha,se marcha el padre del pueblo
se marcha el maestro.

Patxi Andione


http://www.youtube.com/watch?v=FeoPcpPDmHY