quinta-feira, março 30, 2006

...até uma palavra que não digo

Gosto de ti. Gosto dessas palavras absolutas insinuando-se no teu olhar.
As pessoas perguntam-me - Que tens? Tu não perguntas. Olhas. Sorris. Matas o instante que me atormenta. E creio em ti. E creio em mim. Assumindo-me por inteiro na grandeza maior de ser feliz.
Contigo não tenho medo, porque os olhos dos outros não param na tua boca. Na tua alma. Contigo, que nunca perguntas - Que tens? - não experimento o vazio do som. E, assim, as palavras não fazem doer a vida. E, assim, partilhamos a impressão acesa de que tudo passa por nós numa solidão a-duo. Somos maiores do que o destino que devia cumprir-nos. Numa tranquilidade que a cumplicidade não perturba, porque o tempo ainda a não maculou.
Gosto muito de ti. Quanto?! És capaz de imaginar um espaço aberto feito à medida da solidão que me cabia? Pesa dessa maneira o meu gostar. Gosto de ti do tamanho dos caudais dos rios maiores do silêncio que me povoaram. Mede dessa maneira o meu gostar. Gosto de ti até uma palavra que não digo. Guarda-a e sente o meu gostar.

AMS