sexta-feira, março 31, 2006

Os três "D"

A vida é sub-reptícia e, raramente, mostra, às claras, as suas razões. Há pessoas assim. Estão, às ocultas, ao jeito de uma penitência perpétua, a recordar-nos, subtilmente, o seu travo amargo, o seu sabor desagradável e azedo. Dirigem-se aos outros como se todos nós tivéssemos de agradecer a Deus a bênção de as conhecer. Como se, sem elas, o mundo ficasse suspenso e meio perdido. Como são as coisas! Aquilo que as guia? Um nada. Soberba - mais infinita do que os caminhos do senhor; orgulho - bem tratado e cheio de brilhantina; cobardia - respeitavelmente camuflada por uma lógica sem sentido. Aliás, costuma ser esse o seu compromisso com a vida - a falta de sentido dela.
E o mais engraçado é que a estas almas, roídas pelo caruncho ou coladas com fita adesiva, só falta mesmo um letreiro com as seguintes palavras - ma per seguir virtute e conoscenza.
Pergunto-me, frequentemente, entre curiosa e irresistivelmente divertida, quais serão as suas virtudes? Qual o grau superior do seu conhecimento para debitarem tretas e outras lérias que tais como se fossem fonte cristalina das mais profundas verdades? Que metáforas - gastas e balofas - as mantém naquele estado de hipnose pura, convencendo-as de que são alheias a qualquer responsabilidade, porque são únicas e especiais. Logo, alvo da cobiça alheia. Portanto, fonte inspiradora dos demais mortais.
Sempre que me deparo com uma destas "órbitas" irrepetíveis, penso - vai explodir a qualquer momento. Tanta vaidade, tanto egotismo comprimidos… só podem dar origem a uma explosão que, por sua vez, dará origem a… uma nova estrela no universo? Qual quê! A um balão, a um humílimo balão que, ao mínimo furo ocasional, desaparecerá para sempre. Um nada feito de nada.
A vida é um jogo. Até aí estamos de acordo. Mas os jogos do ser, como sabemos, podem acabar num fatídico e lamentável desastre. Três… emendo. Descrédito. Dor. Demência.
Que sentido tem viver assim?!


AMS