sábado, outubro 14, 2006

O que é o amor?

Enquanto não chega, decoramos palavras,
desenhamos dias felizes, traçamos um mundo privado,
inventamos futuros de sol aberto.
Um dia ele chega. E traz consigo a revelação do êxtase
- Nós e o Amor.
E a vida passa a ser um deslumbramento.
Uma certeza.

Mas as noites são longas. A luz morre com elas.
A certeza vai-se tornando incerta e vaga.
E o amor traz a distância,
o silêncio que acende nostalgias, o medo de ficar
só, um verso amordaçado na voz, mãos que deslizam
num rosto fechado e um fim quase sempre inevitável.

Um dia… fomos felizes. Quase felizes. Ou nem por isso...

O que é o amor? Sim, o que é o amor?
Gostar de alguém – dizem as definições mais lineares.
Gostar como?
Para proteger? Para dominar?
Para ser amado? Para dar tudo sem limites?
(Mas o sem limite é perfeição, e os amores perfeitos,
porque exigem muito,
destroem-nos por dentro)
O que é o amor? Carência? Partilha?
Um desejo que não se fica na pele,
mas vai até à alma?
A secreta fruição de uma presença serena?
A fugacidade do delírio?
Uma forma inquieta de querer?
Uma forma almejada de entrega?
Um dar-se tanto e pouco receber?

Não sei que mais pensar...
Que mais dizer...

No entanto, pese embora a tristeza,
o desalento de tantas ilusões desvanecidas,
de tanta solidão não repartida,
decidi escrever algo
que falasse de um amor generoso, com
sabor a terra prometida, definitivo na sua temporalidade,
iniludível, sem dúvidas, ansiedades, corações driblados,
remorsos, gestos de punhais, sonhos destroçados.
Palavras que, não definindo o amor,
transparecessem, contudo, a sua essência.

Não sei o que pensar…
O que dizer…

Sinto apenas, ensaiando perguntas e respostas,
que embora estas palavras não traduzam rigorosamente
a definição do amor,
nem fecundem de plácida certeza os dias que hão-de vir,
aqui e agora,
o meu amor és tu.

AMS