sábado, novembro 25, 2006

... há dias assim...

Alguma vez experimentaram este estado de alma? Claro, estar lamecha. Acordar lamecha. Ver o mundo com um olhar lamecha. Idiossincrasias do comportamento das mulheres - arriscarão alguns. Será... Mas é tão terrivelmente deprimente levantarmo-nos e darmos de cara com um céu miseravelmente nublado; a nossa cara, não menos infeliz, nublada; o gato, desafiador, do vizinho - não menos desafiador - nublado… Tudo cinzento. Sem uma risquinha colorida para aquecer a alma e animar o ego. Cinzento absoluto, como se a vida estivesse a declarar falência.
E, assim, dei comigo, esta manhã, ao volante, chorona, ranhosa, cinzentona, pensando: a única coisa que eu quero é ser feliz... snif... snif... Que abjecta tristeza!
Enquanto fazia o percurso habitual para a escola, só me ocorriam ideias agradáveis, positivas: a morte do meu tio Manel, resmas de testes para corrigir, a doença da minha tia Deolinda que, por azar, até pode ser hereditária... Pensamentos chapa-três, certinho. Justamente o que uma lamecha precisa para assegurar a sua beatificação.
Na escola, o cenário tornou-se ainda mais lúgubre. Parecia mesmo uma epidemia, raios.
"Importa-se de passar pela secretaria? Acho que faltou a uma reunião e não meteu artigo... Que cara é essa?! Estás com mau aspecto - tradução: estás horrorosa! Não te importas de fazer aquelas planificação para TTF? Não me dava jeito nenhum vir cá amanhã… já agora podias, também, fazer a acta da reunião de departamento… és uma querida… mas estás mesmo com ar cansado, cuida-te! - tradução: estás boa para saldar. Stôra, trouxe os testes? Stôra, corrigiu os trabalhos? Stôra, o meu pai manda dizer que não concorda com a nota do trabalho. Stôra, como se diz idiossincrasia em francês?"…
Irra! Chega! Tenham pena! Sinto-me lamecha por causa de tudo o que me aconteceu de mau nos últimos... cem anos. Devido ao síndrome pré-menstrual. Porque o empregado do café, hoje - logo hoje - resolveu tratar-me por "minha senhora" e meteu no saco dos piropos indirectos, o directo, mas infalível, "menina". Porque, hoje, dia de S. Valentim, todos resolveram colocar, no blog, cartas, poemas de amor e só faltou mesmo - para eu abrir liquidação total - o habitual coraçãozinho atravessado por setas, tendo como pano de fundo um estúpido Cupido rindo - qual piranha à espera do ataque final - do nosso ar de Ofélias hamletianas. Assumo, estou lamecha! Há dias assim. Queremos colo, um elogio, ou até um desses peluches com focinho de parvo e com uma legenda mais lamecha do que nós - I love you. Do you love me?
Snif... snif... Alguém me empresta um lenço?


Nota: Juro que também tinha uma carta de... amor. Perante o que aqui li, guardo-a para... o Dia de Finados! Um ternurento e lamecha dia de S. Valentim é o que desejo a todos.

AMS