quarta-feira, novembro 22, 2006

À Sónia e ao José Almeida

Não fazemos anos! Não comemoramos, hoje, nenhuma evento especial... O que terá passado pela cabeça da Ana? - estarão a pensar os dois visados ao lerem o título deste texto.
É verdade. Não fazem anos. Hoje, nem sequer é o Dia Mundial da Amizade. E, juro, não é nenhuma campanha publicitária para angariar mais leitores para o blog. Então, porquê esta necessidade de me dirigir a vocês?
É simples. Não concordo em absoluto com "agradecimentos póstumos". Depois, sempre defendi a tese de que, se gostamos de alguém - e lhe estamos gratos - não há que ter pudor em manifestar os nossos sentimentos. Não há mistérios do coração - aqui, pelo menos, não há. Há amizade e uma transbordante gratidão.
Começo pelo Zé. Fomos colegas. Confesso - não te zangues - que a tua presença me intimidava um pouco. Eras uma espécie de "catedrático" e, sem qualquer razão real, achava-te demasiado "inacessível". Vou explicar melhor, não vá algum leitor mais "poluído" interpretar mal o significado do adjectivo. A tua fama de homem muito culto, escritor, até as tuas intervenções, sim, até essas, tudo despertava em mim um certo receio. Aos poucos, no entanto, fui dando conta do meu erro. E comecei a "ver" o profissional exemplar, o colega sempre disponível a ajudar, o homem correcto e justo, o amigo pronto a aconselhar, a dar e a... aceitar. Como esquecer, Zé, a tua presença, a da Aurora e a da Raquel, no Rivoli, naquela noite chuvosa, lembras? Sim, podes rir. Nem eu sei como me atrevi a ir substituir o aluno... Adiante! Pois é, como esquecer que tu e a tua família estiveram presentes, quando os que mais próximo de mim se diziam... não compareceram?! Desculparam-se, isso sim, como é da praxe e de bom tom. Como esquecer, amigo, que, quando me saiu na rifa o famoso "horário zero", foste o único - ou quase - que me incentivou a reagir, a não cruzar os braços?! É desta forma que começamos a distinguir os amigos... dos amigalhaços. Sabes, ainda não esqueci as palavras do teu último email. Ainda não consegui esquecer a dor que a tua mãe deve ter passado. Ainda não esqueci estas palavras - "... e no entanto nunca perdeu a sua enorme fé...". Nem imaginas o quanto me ajudaste com a simplicidade das tuas lembranças e o conforto - sem pompa - das tuas palavras. Não vou dizer - seria mentira - que me tornei uma pessoa melhor. Que a minha fé aumentou. Que o que te confidenciei... já não dói. Porém, percebi que urge aproveitar o que temos de bom. Nada serve de desculpa para não aproveitarmos a vida. "Amanhã" - ouso acreditar - as sombras dissipar-se-ão e a luz acabará por brilhar.
Podia enumerar um sem número de outros motivos que me fazem sentir por ti uma amizade especial e sã. Não vou, contudo, fazê-lo. Não quero cair na tentação de transformar este texto numa espécie de fait-divers. Assim, deixo-te um sorriso, um abraço e a minha gratidão.

Passo a dar "tempo de antena" à Sónia. Se pensam que vou escrever que nunca discutimos, que nunca nos zangamos, que é uma amizade "certinha" e sem alguns atritos - enganam-se. Discutimos. Zangamo-nos. Ela diz que sou demasiado emotiva, que reajo sempre a quente, que tenho um feitio igual ao do Makram - se pensavas que te livravas desta, enganaste-te! Eu retribuo com piropos do género - és terrivelmente fria e linear nas tuas apreciações e conclusões. Demoram muito estas zangas? Nunca. O tempo de chegarmos a casa - basta atravessar um jardim - e de mandarmos uma mensagem uma à outra a... desculparmo-nos. Bem, excepto na história da papelaria, claro. Que não vou contar, claro. A minha amiga é defensora acérrima de que, para pessoas mal-educadas e do tipo "gentuça" - como a Sónia adora este termo! - a via diplomática é a melhor maneira de corrigir certos comportamentos; eu, bem, eu acho que, por vezes, um "soco" resolve muita coisa - como se constata, a acusação à minha pessoa de "demasiado emotiva e impulsiva" é gratuita e sem fundamento.
O certo é que, contra ventos e marés, a nossa amizade perdura. Umas vezes, usando a tal via diplomática; outras, usando a lei do "murro".
Sónia, não desesperes. Um dia, amiga, hei-de modificar-me. Hei-de superar as minhas "paixões" despropositadas. Contudo, acredito que já não acharás tanta piada à nossa convivência. Porque, no fundo, o que parece desunir-nos, é o que nos une.
Agradeço-te as zangas, os " vem comigo, que é já ali... a 100 quilómetros!", as tuas histórias que acabam sempre por me pôr de bem comigo e com o mundo, a tua confiança, a tua generosidade e até essa tua preguiça para colocar imagens, sempre camuflada com o habitual - parece que percebi, mas tenho de treinar mais!
Um abraço, um beijinho e ... vá lá, desta vez vou ceder - tens razão, nem sempre um "murro" resolve tudo. Ponto final!

AMS