quarta-feira, novembro 15, 2006

querido diário...

Sábado, 11 de Dezembro de 2004

Comida fast-food ingerida hoje
Muita!
Calorias ingeridas
Melhor nem dizer…
Gargalhadas salutares
Muitas!
Chamadas recebidas
Algumas!
Chamadas realizadas
Muitas!
Conclusões a retirar
Se estiver gorda, não vá com a Angel ao cinema!

Como tristezas não pagam dívidas e a nossa amiga Angel é uma fanática adepta deste dito popular, lá me convenceu a ir ver "O Diário de Bridget Jones". “Tu não vês a tua cara? Pareces o Senhor dos Passos… Estás horrorosa!” e, deste modo, com estas frases cálidas e de genuíno conforto - como só uma verdadeira amiga é capaz de dizer, dando-lhes a entoação melódica e insinuante de uma ária cantada por Pavarotti - a zoarem-me ao ouvido, decidi-me e fui. Fomos. A Cris resolveu que um dueto seria algo chato e sem graça e, deste modo, tipo triunvirato para os que gostam de história, a modos que trio Odemira para os apreciadores de "boa" música, lá caminhámos rumo ao Norte Shopping! Já estão a imaginar a cena, presumo. Sábado, época natalícia, a nossa escolha era a opção ideal para um périplo bucólico e calmo. E pronto - não sei bem o motivo, mas de tanto ouvir dizer “prontos"… o meu pronto soa-me mal - quais Reis Magos em busca da Bridget Jones , chegámos, finalmente, à bilheteira. Bem, isso depois de ter ouvido a Angel dizer pela centésima vez que estava com fome e de a ver atender o telemóvel, pelo menos, um milhão de vezes. Como ela fica furibunda quando lhe digo que é uma escrava do “portable”!Comprámos os bilhetes, enquanto, simultaneamente, fomos, seraficamente, informadas de que a Cris ainda se encontrava em casa. Isto, note-se, quando faltavam cerca de 15 minutos para o início da sessão. Havia muito tempo, dizia a optimista Angel. Se ela dizia que sim… eu limitava-me a não opinar. Mas a fome era muita. E 15 minutos, às vezes, esticam, esticam… Assim, só depois de bem artilhada, e isto implicou uma “baguette” colossal, batatas fritas e uma garrafa de água, a esfomeada Angel resolveu entrar na sala de cinema. Contudo, a minha amiga é uma ecologista nata, uma defensora acérrima de produtos naturais. Enquanto ia comendo as batatas fritas, não perdia o seu estatuto de “verde” e informava-me: “Isto está saturado de gorduras! Tem óleos cancerígenos! Faz mesmo mal!”. Confesso que não resisti e, viperinamente, perguntei: “Por que razão as comes, então?” Sábia e divertida Angel! Com o ar mais inocente do mundo respondeu: “Ora, porque são deliciosas!”. Sentámo-nos. Bem, eu sentei-me. A minha sempre imprevisível amiga colocou um saco numa cadeira, a garrafa de água na outra e… foi procurar a atrasada Cris. Voltou, alguns minutos depois, dizendo: “Deixei o bilhete dela na bilheteira, mas temos de lhe guardar o lugar”. E guardámos! Várias pessoas se dirigiam à cadeira, aparentemente, disponível, mas o saco colocado estrategicamente, logo as afastava. Novamente a minha moralista e oportuna amiga advertia: “ Não podemos fazer isto! Mas é que não podemos mesmo… “. Razão tinha o outro - olha para o que digo, não para o que faço.Enfim, chegou a Cris e chegou, também, a desastrada Bridget. Nessa altura, já a Angel ia a meio da “baguette” e debatia-se, mais uma vez, com a preocupação do barulho que a embalagem da "merenda" faria. Noblesse oblige! Se o Padre António Vieira a tivesse conhecido, era certinho que a tinha mandado evangelizar os Tapuias! Do filme nada vou comentar. Uma comédia hilariante que mais hilariante se tornava com as gargalhadas saudáveis da comilona sentada ao meu lado. Verdade seja dita que ver uma heroína de tamanho XL conseguir “agarrar” um pêssego daqueles, é razão mais do que suficiente para levantar o ego da mais desgraçada e infeliz das mulheres. A tarde teria já um remate de "satisfez plenamente". Eu já não estava com cara de Senhor dos Passos - estaria, penso eu, menos roxa interiormente, assim a modos que a fugir para o cor-de-rosa - o apetite desenfreado da Angel parecia ter acalmado, talvez depois de ter assistido ao suplício de uma Bridget Jones dentro de um espartilho digno de figurar entre as mais requintadas torturas, quando novo episódio picaresco veio dar um ar ainda mais anedótico ao nosso final de tarde. Entre relatos de aventuras - e que aventuras! - passadas em Marrocos, risos, promessas sagradas de dietas rigorosas, a não menos hilariante Angel sai-se com esta: “Estou frita! Recebi agora uma mensagem e tenho de ir comprar um frango à Petúlia!". É certo e seguro, quem disse que batatas fritas, frango, heroínas obesas, suspiros de amor e açucarados finais não combinam, devia ter ficado de bico calado. E... "prontos"! Obrigada, Angel! Obrigada, querido diário!

AMS