sábado, março 03, 2007

Milagres

Em Portugal, há necessidade de milagres. A tarefa hercúlea de levantar a economia e o ego dos portugueses - que já só abanam compassivamente a cabeça e a algibeira - parece que não encontra base de sustentação a não ser num prodigioso gesto divino. É escusado estar a alimentar falsas esperanças, meus amigos: isto só se endireita com preces, rezas, jejuns, penitência - esta nunca é suficiente - e… milagres.
Não é segredo nenhum - basta ver a quantidade de pessoas que têm "aplaudido" tal medida - que o ministro da Saúde resolveu fechar hospitais, maternidades e urgências. É ou não verdade que com toda esta política economicista só não morreremos… por milagre?! Do mesmo modo, com a quantidade de anos-luz necessários para atingir a tão ansiada reforma, chega-se ou não à triste conclusão de que será um milagre atingir essa etapa de lazer, tranquilidade e alívio... sem um encontro prematuro com o popular disfemismo: esticar o pernil?! Isto para não dar como exemplo casos que necessitariam de um milagre com M maiúsculo e de bastantes cunhas no Olimpo: chegar a professor titular sem depressões, fobias e outras psicoses que tais; resistir, estoicamente, a montanhas de reuniões, preparação de reuniões, continuação de reuniões e a tanto faz-que-faz.. sempre com a convicção de que, na verdade, não se faz nada; conseguir um tempinho para preparar aulas - aqui, digo eu, será mais fácil, qual Moisés - o tal que era gago - afastar as águas turvas do rio Douro; exilar do espírito e da cabeça o fantasma de uma avaliação que, neste momento, se resume a 95 pontos que ainda ninguém sabe - excepto, claro, os “videntes", “profetas” e "entendidos" emblemáticos de uma excepcionalidade muito (?) empenhada - como serão obtidos… Enfim, a lista é longa e a vida uma máscara do Carnaval de Viareggio.
Milagres precisam-se! Contudo, como no nosso país vigora a lei do mais forte - fátuo, vaidoso e presunçoso - não faltarão, por certo, milagreiros, aprendizes de feiticeiros e vendedores de banha da cobra que, numa prodigiosa encenação, tudo remediarão. E do caos e da ignorância nascerá, enfim, a luz. Aleluia! Assim, os cegos passarão a ver, os surdos a ouvir, os paralíticos a andar, os pobres de espírito a iluminar e os parasitas - e outros animalejos multifacetados - a produzir. Vai ser - já é - um ver se te avias.
É claro que para os menos dotados nas artes de prestidigitação haverá sempre a possibilidade de frequentarem cursos de formação subordinados ao tema - Aprenda a fazer milagres num piscar de pestana. Não exige trabalho, suor e muito menos poderes miraculosos. Basta ter lata. Muita lata. E, se possível, os dotes beatificadores dos emplastros Leão. Aqueles que tiravam a dor num senão.

AMS