O rei vai nu
Não há mesmo pachorra para aturar este governo. As suas boas intenções. As suas estratégias rumo ao sucesso. Por mais que tentemos, é duro e difícil descortinar, por entre tanta névoa, um raiozinho de sol. Que o nosso primeiro é arrogante, prepotente e com uma tendência subterrânea para a ditadurazinha, isso já muitos pressentiam. Que o dito senhor é um fervoroso adepto da expressão "olha para o que digo; não para o que faço" também deixou de ser novidade. Basta reparar nas suas modestas feriazitas ao Quénia e ao Brasil para que, de imediato, nos sintamos na obrigação de apertar (ainda) mais o cinto. O país, afinal, depende (só) de nós, os escolhidos, os filhos dilectos, os eleitos para, quais mártires, entrarem na arena e, pacificamente, deixarem-se trucidar por leões famintos, vorazes, insaciáveis. Quando o espectáculo acabar, haverá sempre quem tenha a lata de dizer - lavo daí as minhas mãos!Cada dia que passa, assistimos, estupefactos - indignados, decepcionados (?) - ao aumento da corrupção e , acima de tudo, da pouca vergonha. A demência política aliada ao rosto de uma irreversível imoralidade levam-nos a olhar de viés os dias que hão-de vir.
O caso da Universidade Independente é mais um (fatídico) sinal que nos força a acreditar na derrocada de um país, de um povo cada vez mais sem história.
«Não posso deixar de me indignar com mais uma campanha de insinuações, suspeitas e boatos que me pretende atingir na minha honra e consideração e que, à semelhança de outras de triste memória, assume uma dimensão difamatória e caluniosa», justificou Sócrates, atirando para a Universidade Independente a responsabilidade por «obrigações que não são dos alunos mas da própria Universidade». Também eu, Eng.º (?) Sócrates, não posso deixar de me indignar face ao seu autismo e falta de explicações. O seu despudor arrasta a incredibilidade. A mim, como a tantos portugueses, não basta que se tenha dado à canseira de modificar - vezes sem conta - o seu currículo. Era o que mais faltava que o não fizesse. A mim, como a tantos portugueses, incomoda esta falta de decoro e de transparência que, há muito, criou viçosas raízes em Portugal.
Sinceramente, senhor primeiro-ministro, não consigo perceber a sua relutância em mostrar o que se esconde - ou não - por trás do véu. Quem não deve, não teme, não é assim? Não é suficiente que se defenda com o monstro da cabala, da difamação e do boato. Seria mais terapêutico e eficaz , penso, que clarificasse as falhas relativas à sua licenciatura. Há sempre, e até prova em contrário, o benefício da dúvida. A minha, confesso, está mais virada para o indecoro da (in)certeza. Passo a explicar. Se estivesse no seu lugar, a minha imediata reacção seria a de, prontamente, mostrar que em nada me afectaria a investigação de quem quer que fosse. Possuo certificados e diplomas que confirmam a minha situação académica e seriam muitos - sim, que não tive sempre o mesmo docente às diferentes cadeiras - os professores e colegas que atestariam a minha presença e frequência quer às aulas quer a exames. Nem sequer me daria ao trabalho de pressionar alguém para comprovar o que, por si só, seria facilmente provado. E é aqui que está o busílis da questão, caro José Sócrates. Para quê, afinal, tanto telefonema e tanta pressão da sua parte no intuito óbvio de amordaçar os meios de comunicação e de, consequentemente, irradicar a menor suspeita sobre a sua pessoa?!? Quem não deve, não teme, repito. E não adianta aquela treta que os seus seguidores arranjaram para justificar as suas atitudes - o primeiro-ministro gosta de falar directamente com as pessoas. Bolas, se o senhor gosta de falar - dialogar - com as pessoas, então é bem provável que o estado caótico do ensino e do país seja, afinal, culpa absoluta dos professores.
Erroneamente, muitos afirmam não fazer diferença a sua licenciatura ou não licenciatura; o seu "esforçado" título de engenheiro ou o seu não título. Pois faz toda a diferença. Esse pequeno detalhe - e não estou a referir-me a canudos que, pelos vistos, se vendem, trocam e leiloam num piscar de olhos - permite discernir um homem vertical, de uma só palavra, de um homem oblíquo, de vários discursos dependendo da ocasião e dos protagonistas. Um primeiro ministro fiável de um primeiro-ministro que não cumpre as suas promessas, perito em vender banha da cobra.
Pobres portugueses - qual Sísifo carregado de ilusões - que ainda não perceberam o facilmente detectável - O REI VAI NU!
AMS