sexta-feira, março 30, 2007

Sopros

Sempre receou abrir os olhos e nada ver. Assim, ajusta-se a um espaço de limitado horizonte, a uma ausência de voo, a emoções garantidas, débeis, distraídas.
Ajusta-se, não desistindo de avançar. E enquanto acende gestos quotidianos, pressente ventos. Adivinha marés. Rasga limites.
A vida pode acomodar-se ao quase nada. Ao semi-adormecido. A noites dilatadas de exílio. A manhãs imóveis.
A alma, porém, exige mastros. Bebedeiras de azul. Respiração da luz.
Não ousa estremecer a paisagem que a circula. Mas enquanto se apaga na monotonia do repetido, diz a si mesma que, para lá da fachada cinzenta que a suspende, deve existir uma primavera sem taipais.
Bom, é já um começo.

AMS