domingo, março 04, 2007

Pessoas

Escrever sobre o quê? Sobre quem? Por vezes, torna-se tarefa árdua deixar fluir livremente o pensamento, deixar jorrar as palavras numa anarquia simples e concreta, sem grandes apetrechos decorativos.
Instintivamente, a primeira palavra que me ocorre é "pessoas". Pessoas, seres vulgares - mas tão especiais - daqueles que se apresentam com defeitos, debilidades, diferença espezinhada a cada hora. Se me pedissem para definir esta palavra, escreveria: "pessoa" - peregrino sempre em demanda da grandeza fátua de um sonho; rosto anónimo, sofrido ou alegre, teimosamente sobrevivente às imensidões dos abismos que se lhe deparam; ser de fim inadiável, envolvendo a inquietude e a revolta numa esperança obstinada.
Pessoas... rostos... pessoas.... gestos... no centro abissal de desertos, procurando a harmonia de um diálogo de solidões na justa medida da entrega e da dádiva. Rostos que procuram um Deus no rosto dos outros.
Os outros? Seres igualmente em busca da chave que abra a porta do efémero, do silêncio, da indiferença de muitos rostos fechados.
Pessoas... rostos... eternos viajantes... todos! Como quem busca, na sina distante, um lugar sem fronteiras, onde as coisas e as pessoas fazem sentido. Pessoas batendo ao compasso de corações febris, tentando esmagar os medos e o vazio mais profundo que ao homem coube em herança.
Pessoas mendigando uma carícia serena e cálida que as afaste do frio cortante da opacidade das outras pessoas.

AMS