Espera
Faltam-me as palavras porque tenho o teu nomegravado em cada poro do meu corpo, em cada
ínfima parte da alma. Escrevo-o nos quatro cantos
da folha como se, assim, pudesses aparecer no
meio dela. Talvez, quem sabe, para te trazer de
regresso à minha vida numa espécie de acto de
ressurreição. Já escrevi tantas histórias, umas
vividas, outras adivinhadas, mas nunca consegui
abrir luz ao gesto de escrever a nossa. E não quero
construí-la a partir do irreal ou do impossível.
Por isso, ela acaba sempre por escorregar-me por
entre os dedos, refugiando-se no não concreto e
na mudez do desejo. Faltam-me as palavras.
Não porque estejam gastas, mas porque nenhum milagre
as acendeu, levando-as a dizer o que não dizem.
O teu nome, porém, vive em mim como um inevitável toque
de mão sobre o fogo. Movo-me entre o seu som reprimido
e a tua presença ausente. Como que um enigma ininterrupto,
interminável, cuja resolução, caprichosa e incerta,
se enreda sempre nas escadas íngremes do inatingível.
Acabo por afastar a folha e fecho os olhos, maniatada
por uma espera que arde há muito. Mesmo sabendo que a
espera é a raíz dolorosa do que só na alma nos pertence.
AMS