domingo, outubro 28, 2007

Ainda importa

As coisas esquecem-se. As pessoas também. Nada ficará de nós se os outros não nos guardarem na memória dos afectos.
Pergunto-me frequentemente se a minha passagem pela vida se esborratará numa mancha difusa ou se, pelo contrário, alguém, sentindo a minha ausência, murmurará - Foi bom conhecer-te. Tu fizeste a diferença e mudaste a minha vida.
Esta incerteza incomoda-me. Olhar para trás e concluir que nem a poeira do nosso rasto ficou, que a marca da nossa alma - aquela que nos torna distintos, especiais - jamais envolveu os outros numa carícia quente e eterna, que nada nos resta a não ser deixarmo-nos engolir pela escuridão, deverá ser a dor mais lúcida, cortante e interminável que a morte exala.
Não basta que sejamos reais. É preciso que sejamos relevantes para que o nosso toque não morra e a nossa vida faça algum sentido.
É por isso que quando pensamos - já não importa - urge que a alma amplifique a sua fé, a sua força e grite - ainda importa. Mesmo tendo a certeza de que já não veremos as folhas mudar de cor. Mesmo sabendo que quando o outro sentir vontade de pegar na nossa mão, já não estaremos cá.
Mas se existirmos no coração de alguém, as areias do tempo nunca apagarão a nossa marca.

AMS