sábado, abril 01, 2006

E esta, hem?!

Por tradição, hoje é dia das mentiras! Curioso, pensei que o interessante seria festejar o dia das verdades. Enfim… a tradição ainda é o que era, pelos vistos.
Recordo-me, quando menininha, de delirar com as partidas que, ingenuamente, pensava pregar aos outros. Não resisto a contar uma dessas brincadeiras que, digo eu, ficou para a posteridade e, tipo saga, é descrita, ao pormenor, em festas e datas especiais.
Era eu, nesse tempo, uma miúda de longas tranças louras, olhar seráfico - tipo Branca de Neve sem os sete anões - e com uma vozita capaz de comover os corações mais gélidos. Como cúmplice - todo o criminoso tem um ou mais, não é? - o meu irmão.
A cena é fácil de descrever. Duas crianças, à porta da rua, aflitas, tentando, em vão, chegar à campainha. Que coração empedernido não se prestaria a ajudar aqueles dois querubins? Nenhum. E aí é que estava a piada. Para nós, claro. Mal tocavam, as pessoas saltavam para trás e... soltavam um ou outro palavrão. É que, como já devem ter percebido, a campainha estava mal ligada e dava choque.
Escusado será dizer que se algumas daquelas santas almas ainda nos aconselhavam a não tocar naquela “ratoeira”, outras havia que nos olhavam de soslaio, tentanto descortinar uma ponta de malícia nos nossos rostos angelicais.
E assim continuávamos a nossa missão, até que a minha mãe, preocupada e desconfiada, vinha à janela, assistia àquele ritual-sacrifício, descia as escadas e nos colocava de castigo, durante o resto da tarde. Isso, devo acrescentar, também era um grande choque!
Bons tempos! Actualmente, os adultos tomaram o lugar dos querubins. Os choques passaram a ser mortais… ou quase. E as vítimas ficam à espera - sine die - do castigo dos culpados que, frequentemente, e por artes mágicas, viram vítimas e ainda têm direito a … indemnização.
Que bela palhaçada! Trair, mentir, enganar passou a ter direito a comemorações! E esta, hem?!


AMS