quarta-feira, maio 24, 2006

O vaso de buganvílias


Cada manhã desperta da penumbra da noite.
Em cada manhã, a vida. Contudo, ninguém diz,
porque ninguém se apercebe - estamos vivos!
O sol espreguiça, de novo, os seus raios,
mas tudo carece de sentido para o homem
inteligente, cheio de equívocos e pueris
preocupações. Os olhos estão cegos à beleza
esplendorosa da rosa que se abre, ao esvoaçar
gracioso dos pássaros, à frescura de um vaso
de buganvílias que enfeita o descorado
de uma varanda rendilhada a memórias já
esquecidas, emoções de chegadas e tristezas
de partidas. E o homem, ser pragmático, mede
milímetro a milímetro o tempo, contorcendo-o
em paragens sempre adiadas, afogado em tédio
e bocejos perdidos em labirintos de nada.
A vida, essa, continua à espera que a sofisticada
inteligência humana perceba que ela pulsa, sorrindo,
num vaso de buganvílias de uma velha varanda.

AMS