quinta-feira, julho 06, 2006

sombra e luz


Vejo quase sempre imperfeição no que faço. A minha urgência de clarificar o jogo de luzes e sombras de que somos feitos poderá ser a causa que me lança, perpetuamente, numa lamentável confusão. Numa decepção que se dissemina e me faz vacilar sem saber para onde ir ou o que procurar.
Todavia, paradoxalmente, a esta insatisfação, indistinta e surda, opõe-se uma tenacidade - não falha de vulnerabilidade - orgulhosa, expectante. Viver não é em vão. E se me torno outra para ser eu mesma, usando ou não usando uma espécie de disfarce, não possuo a arrogância autista - miseravelmente perversa - de certos romeiros da vida.
Não respiro sub-repticiamente. Respiro com a inquietude lúcida da minha singularidade. Da minha pequenez. Mas até para assumirmos a nossa pequenez é preciso mostrar coragem. Nesse aspecto não me desiludo.
Nos trajes viciados de alguns vejo mais do que aquilo que aparento ver. Subestimam, esses alguns, os meus trajes sem atributos. As certezas, como as verdades, não são mais do que máquinas fotográficas que captam o que está. Ineficazes, porém, face ao que, aparentemente, não está. Mas existe.
Colher e saborear um fruto está ao alcance de qualquer um. Sentir a emoção de o saborear é atingir o instante exacto do inapercebido que oculta a grandeza de uma vida. Poucos, muito poucos a sentem.

AMS