quinta-feira, abril 13, 2006

Encontro-me nas palavras

Encontro-me nas palavras que escrevo.
Palavras vulgares, anónimas, rastos do quotidiano. Palavras divididas entre o coração e a razão. Soletrando tristeza e alegria .Cruzando-se no semáforo da vida. Palavras envoltas em ternura. Em desapego. Cada abraço, um laço solto.


Encontro-me nas palavras que escrevo.
Descobrindo-me, descobrindo, como farol do acaso, emoções por desvendar, fomes por acalmar. Palavras que respiram memória, cansadas de distância e da sede de ir sempre mais longe. Palavras fugindo da derrota mais sentida de todos os dias da vida.
Na noite, deslizando, devoradoras, plenas de tudo até ao nada da ausência. De dia, atravessando os muros da rotina, instalando-se no fogo da coragem que queima a angústia de ter sem ter.
Palavras a que me agarro, em que me invento real.
Palavras mágoa de escuro habitadas. Palavras sonho de fogo ateado. Palavras vivas de rotas infindas.

Mas quem as lê? Quem as ouve? Quem as sente? Quem traduz a verdade inventada que delas escorre?
Encontro-me nas palavras que escrevo. Não posso voltar atrás.


AMS