sábado, maio 27, 2006

não te posso contar o que mais sinto

Tacteando as palavras, aporto ao cais
da tua escuridão. Tento recordar-te aquele tempo
em que, fecundados de sonhos insubmissos, nada
se perdia. Tudo era eterno.
Os nossos olhos, deslumbrados pela luz
da aurora triunfante, eram também luz.
Os nossos gestos, sob um céu glorioso,
saqueavam, palpitantes, o divino licor
que nos tornava imortais.
E éramos felizes.

Como se nada houvera sido,
a tua noite impede-me de ver
esse tempo, ébrio de astros, desnudo
de impossíveis, condenado, agora,
ao esquecimento que reflui do pântano dos dias.
Que estranha e breve é a felicidade!

AMS