domingo, maio 28, 2006

"Não ter pressa é saber que chegaremos"

Em frente ao mar, encontrava sempre a serenidade do equilíbrio. Era como se ele a abraçasse por dentro, comungando uma singular capacidade de redenção intemporal.
Lugares-comuns não enchem a vida de ninguém. Mas as pessoas andam afogueadas, perturbadas, alheadas, entardecidas. Subavaliam a importância que os outros têm na sua vida. Sobreavaliam uma forma quase irracional - distraída - de se entregarem. De gostarem. Vivem de olhos fechados, reprimindo - ou ignorando - que até a dor é simples. Dói quando dói muito.
Mas o mar tinha o sublime poder de a levar a fazer “delete” à desconstrução da sua existência. Ali, sorvendo e decifrando a sua respiração, silenciosa e deslumbrada, a sensação que a invadia era de pureza inicial. O sussurro das ondas envolvia-a e, de certa forma, parecia dizer-lhe – Deixa de te preocupar com o tempo. De o interrogar. Que importa a resposta? Esquece. Recomeça. Há gestos por refazer. Nada é definitivo.
Nada é definitivo… - pensou. E quase lhe apeteceu gritar – Fica prometido. Vou procurar o meu lugar exacto. Uma vida não se cria de uma só história. Nem de uma só vez.

AMS