sábado, janeiro 20, 2007

cantiga de engano

Chamaste-me mulher,
Mãe, amiga, amante,
Sombra, calmaria, malmequer,
Madrugada, flor agreste, melodia,
Luz secreta que alumia.

Disseste que o meu nome
Cabe numa mão pequena,
E que cheira a açucena,
E que sabe a madrugada
Doce, fresca, orvalhada
Num lençol de ternura germinada.

Mas o meu sorriso não floriu,
Ouvindo a voz que me chegava
Da tua boca gasta, repetida,
Desfolhando noutras bocas o sabor
Desses frutos de seiva ressequida.

Chamaste-me flor,
Luar, calor,
Bálsamo, oração
Do teu altar de extinta devoção.
Só não ouvi ressuscitada,
- Sequer lembrada -
Na tua boca, a palavra amor.

AMS