domingo, outubro 08, 2006

o rosto que foge

Em cada dia morre alguém em mim,
Que não era senão o que não fui,
Múltiplas faces de um só mesmo rosto
Exausto de inquieta, inóspita jornada,
Esfíngico entre dunas de procura alucinada.
Como Eco chamando Narciso, lanço, em vão,
Palavras que não ouço, ninguém ouve,
Fechadas num silêncio cor de escuma,
Caindo, desoladas, uma a uma.
Não me vejo nem me lembro. Quem sou eu,
Errando aos caprichos da má sorte,
Não vislumbrando nada além da morte?!
E o rosto que tento desvendar,
No vago esboço de um sonho que fluiu,
É o meu rosto. Era apenas eu,
Reflexo de um alguém que não alcanço,
Brisa que perpassou, mas que fugiu.

AMS