domingo, outubro 08, 2006

Prazo de validade

Quando não se é fada nem heróina de um daqueles romances cor-de-rosa, a etiqueta de validade - e qualidade - anda, constantemente, connosco. Confesso que nunca fui muito dada a "etiquetas", mas a verdade é que, nestes últimos tempos, olho em demasia a minha. E o caso não é para menos. Sempre fui, confesso, perita na arte de (bem) andar na lua e, por mais que me tentassem puxar para terra firme, eu resistia, resistia e, qual balão de S. João, voltava, inexoravelmente, para as nuvens. Nada de muito grave, dirão os mais optimistas. Pois... o problema é que começo a perceber que esta tendência para uma certa distracção aguda, para um perpétuo divagar é, sempre foi, um sinal inequívoco de que sou uma inadaptada do chamado pragmatismo quotidiano. Claro que ouvi o seu comentário, caro/a leitor/a: "traduz isso por miúdos, que não estou a perceber esse discurso intelectualóide...". Vou tentar. Desde criança que me habituei a olhar, assiduamente, para o céu. Fruto de uma educação conservadora e religiosa - estarão a pensar. Essa falsa premissa não cola, podem crer. É certo que sempre ouvi a minha avó dizer: "o céu, minha filha, é o local para onde vão os bons e os pobres de espírito!". Não quero aprofundar esta teoria, pois parece-me que a minha avó não distinguia lá muito bem uns dos outros. E como não estou na fila dos bons, bem... adiante... Mal sabia a minha avó, coitada, que, com toda esta dialéctica, iria afundar a neta numa gravíssima problemática de identidade.
Dias há, meus amigos/as, em que dou por mim a ir umas cem vezes à cozinha. Bela cozinheira - comentarão alguns dos tais pobres de espírito. Isso é que era bom, mas enganam-se. Esta caminhada repetitiva tem (quase) sempre como objectivo ir verificar se deixei o fogão ligado ou, e isto é muito mais grave, é consequência de um fervedor de leite a espraiar-se ( geralmente, ainda consigo evitar que o fervedor se espraie também...) por tudo quanto é canto, ou de uma torneira que ficou, melancolicamente (deixa lá dar um certo ar romântico ao texto) a pingar... ping...ploc...ping...ploc....
Se não é a cozinha, a temática é oftalmológica. Quantas - mas quantas!!! - vezes, coloco as lentes de contacto, olho para o espelho, vejo-me um pouco "nebulosa" - mais do que o habitual - e penso: vai estar um mau dia! Certinho! A meio da manhã, costumo começar a piscar os olhos - o que já me tem trazido situações embaraçosas - mais para a tarde, os meus olhos verdes cor-de-ervilha começam a mudar para um verde cor-de-cenoura, até que, finalmente, em casa, constato que andei com as lentes trocadas.
A lista é longa. Assustadora. Começo a parecer a protagonista de um filme que, quando, finalmente, parece estar a bater à pousada da vigésima felicidade, descobre que tem Alzheimer.
Eu sei... há dias e dias... pode acontecer a qualquer um... Mas levante o braço quem tiver coragem de responder a esta questão: "algum dos senhores/senhoras, deu por si a descobrir que os sapatos que tinha procurado durante toda a semana... estavam no congelador?!!! Não adianta tentarem consolar-me com os argumentos baratos de que a vida, assim, nunca será monótona. Alguma mulher gosta de ouvir de um homem o que só uma loira esperta como a explosiva Jessica Rabbit se atreveria a dizer? - "Faz-me rir! Conta-me mais um dos teus disparates..." ???!!!

AMS