quarta-feira, novembro 01, 2006

SPA - Sanus Per Aqua

As mulheres, meus amigos, podem ser os seres mais solidários do mundo - algumas, note-se! A sua terapia de grupo de apoio funciona às mil maravilhas. Elas sabem dizer aos outros - algumas, volto a frisar - o que gostariam que lhes dissessem. Logo, e seguindo esta linha de pensamento, quatro amigas - Ana, Carla, Eugénia, Manuela - resolveram aderir ao que apelidarei de “terapia da limonada”. Artificial - a limonada, pois!
Chorar baba e ranho em “comunidade", caros leitores, dá confiança, acaba com os egos destrutivos, extermina os chamados buracos - de ozono?! Não! - na garganta e na alma. Enfim, recupera-se a auto-estima, canalizam-se os desgostos para o Iraque, aprende-se um curso acelerado de corte e costura, e só não se é feliz para sempre porque, nesse caso, lá se acabava a terapia de grupo e de apoio. E, sobretudo - desgraça das desgraças - lá se ia a limonada. Sintética!

Sexta-feira, 8 de Julho de 2005. Quatro amigas - nenhuma de Peniche - dirigem-se a Melres - que, por acaso, estava a arder - num sinal inquestionável de amizade, partilha e cumplicidade. Quem leu Os Três Mosqueteiros - na realidade eram quatro - compreenderá este tipo de união. Uma por todas, todas por uma! Lindo! A verdade é que as “termas” da Carla são uma quase perfeita imitação do SPA da Givenchy das Maurícias, mas do tipo "caseiro" e com menos glamour, topam? Mesmo assim, a chegada foi triunfante. Entre o rasar dos helicópteros, faúlhas, cheiro a queimado, bombeiros disponíveis - e aqui interpretem como quiserem - o Douro, ao fundo - sem piranhas - ei-lo que se abre. Quem?! Bem, não é quem, suas mentes perversas, é o quê?! O portão, claro. Um misto de construção manuelina, barroca e… bem, não sei se diga, nem sei se pense... um estilo assim a modos que um bispo sem mitra, estão a visionar? (Carla, isto é tudo a brincar, porque adorei o jardim, as cinco portas que não percebi se eram só décor - ou seriam quatro? - o Douro e… os limoeiros!) .
Continuemos. Ah… apenas um “piqueno” pormenor - como sempre a 4M chegou atrasada. Noblesse oblige! Porém, devo salientar que a sua entrada triunfal - não, não quis dizer Ode Triunfal - foi ao som da Nina Simone - My baby just cares for me - com que a Eugénia, sempre uma caixinha de surpresas, resolveu presentear-nos. Para criar ambiente e lagrimitas mais plangentes, presumo. O Douro, o fogo, os helicópteros e… blues! Que cocktail explosivo e, por que não dizê-lo, com muita classe! Será isto o chamado charme discreto da burguesia?! Depois desta interrogação retórica, a narradora pára para meditar...
De A a Z nada nos escapou. Até de si falámos, pode crer. Sim, não core, de si! Um curso intensivo e multifacetado: música, poesia, amor, zoologia, morfologia e… sintaxe!
O lanche? Nem lhes conto… A limonada, ai a limonada… Divina! De cada vez que a Carla saía para o jardim, imaginava-a qual camponesa - igual à do Rui Veloso, estão a ver a cena?! - a trepar aos limoeiros - sem imposturas tolas, mas também sem o tal ramalhete rubro das papoulas e sem o burrico… - a arrancar os limões que, de imediato, transformava num néctar delicioso. A sorte é que, para já, os limões não têm álcool. Ou aqueles teriam?! Outra interrogação retórica que deixa a narradora num estado de reflexão tibetana.
Incidentes? Nada que quatro amigas solidárias não resolvessem. Aparte a alça do top da Manuela - sempre muito discreta, diga-se - que teimava em cair, os telefonemas - vários - que recebeu, trocando, estranhamente, a identificação de quem lhe telefonava, sms pululando - misteriosamente - para o telomóvel da Eugénia, o rubor da Carla sempre que elogiávamos a limonada e a minha atracção fatal pelo… Douro, poder-se-á dizer que a tarde foi agradabilíssima, recheada de gargalhadas, croissants, fumo e limonada… sintética.
Desculpa, Carla, mas agora vou mesmo contar! Não é que a limonada cristalina, saudável, sem corantes nem conservantes era - ó desgraçada! - pura gasosa com casca de limão ressequido e congelado?! Esta, anota, ninguém te perdoa.
Y punto, que é como quem diz, fim… ou quase! Os agradecimentos da praxe, os beijinhos habituais, a solene promessa de repetir a “dose” - mas não a limonada - em cada segunda sexta-feira de cada mês e … novamente o portão. Como eu adorei aquele portão! E as colunas, e as esfinges e os vasos de sardinheiras?!
Ah… ia esquecendo. Enquanto as despedidas decorriam, a Eugénia percorria as termas de Melres em busca - não, não era da esmeralda perdida! - do melhor local para tirar uma foto ao Douro. No entretanto, as cinzas salpicavam o ar numa chuva de prata e fogo (que pena a ex abelha-mestra não ter estado connosco!)... A minha amiga é uma bucólica nata, não haja dúvida! A Manuela ia, simultaneamente, preparando os “soins de beauté” para um jantar de gala - gente fina é outra coisa! Quando saiu, aproximando-se do portão, apetecia mesmo dizer - antes e depois! Não, está tranquila que omito os detalhes, ó "glamorosa"!
E aqui acaba a descrição de uma tarde bastante (de)formativa - atenção aos mais precipitados - (de) formativa porque a tertúlia girou à volta (de) quatro formadoras. Linearmente óbvio.

Um abraço - sentido, muito sentido - às minhas três amigas: Carla, Eugénia e Manuela!


Nota: Os espíritos mais elevados - não é o meu caso - que traduzam este pequeno excerto:


"Sanus homo, qui et bene valet et suae spontis est, nullis obligare se legibus debet, ac neque medico neque iatroalipta egere. Hunc oportet varium habere vitae genus: modo ruri esse, modo in urbe, saepiusque in agro; navigare, venari, quiescere interdum, sed frequentius se exercere, siquidem ignavia corpus hebetat, labor firmat, illa maturam senectutem, hic longam adulescentiam reddit."

AMS