domingo, dezembro 31, 2006

2007 - "... abrir mão da vida para que os outros vivam"

Não acredito em poções mágicas! Ano novo, vida nova? As pessoas não mudam com um simples abracadabra. De que adianta, então, afirmar com uma convicção inabalável, inacessível à hesitação - vou mudar!? O universo. O mundo. Os outros. Sim, porque o mal nunca parte de nós. As mudanças devem ocorrer… nos outros. Sempre. Nós somos o exemplo e a imagem da perfeição. Ou quase. Erros? Ora, o erro - em nós - aceita-se. Até é natural, tendo em conta uma certa fraqueza humana. Além disso, há a esperança. A doce esperança! De que a humanidade, virada do avesso, retome a sua órbita. Certinha, pois. Sem transgressões, claro. Num movimento que recopie os nossos passos. A nossa “autenticidade”. A nossa “verdade”. As nossas encenações.

Ano novo, atitudes novas. Isso. Responsabilizando os outros. Fazendo-lhes sentir que superfície e profundidade não são coisas que se tenham, mas algo que se é ou não se é. Eles - sempre os outros - vivem à margem da nossa moral, da nossa seriedade, da nossa inteligência, enfim, da nossa análise profunda.
Quanto a nós, se não somos bons, desejávamos ser. Se não somos autênticos, imitamos muito bem. Se não vemos, ou não queremos ver, não somos responsáveis - bem-aventurados os cegos, porque deles será a tranquilidade de espírito. E da consciência, acrescento eu.

2007 será apenas o caminho que escolhermos. Com chuva. Com sol. Com céu azul. Com nuvens toldando o céu. Com alienação. Com uma compreensão clara do mundo. Com erros. Com todos nós, inteiros, ainda que com alguns pedaços da alma mais ou menos por colar, tentando, de novo, elaborar qualquer coisa que se assemelhe a uma vida não desperdiçada.

Não acredito em poções mágicas. Acredito, contudo, que, se hoje ou ontem choveu, o sol terá nascido, seguramente, em outros lugares. E acredito, acima de tudo, que a felicidade é a medida da procura, não da consumação. Assim, nada prometerei. Nem hossanas, nem ressurreições, nem palavras cheias de amor… pelo ódio. Muito menos um sorriso transversal do tamanho do equador… para mais tarde se esquecer. Tentarei, isso sim, “fazer de cada perda uma raiz/ E improvavelmente ser feliz”.
Podem contar com isso.

AMS