sexta-feira, dezembro 22, 2006

Palavras...

Às vezes - quantas vezes - falar para o papel é bem mais fácil do que falar com as pessoas.
O curioso é que nesta partilha, aparentemente, desequilibrada - emissor/papel - há um equilíbrio singular, único.
Como é horrível - e abominavelmente chato - falar com pessoas que não sabem - ou não querem - pegar, cuidadosamente, nas palavras. Daquelas palavras que tocam. Daquelas que ramificam e arrastam consigo ideais. Daquelas que carregam um sonho, mesmo que velho e de asas pisadas.
E há palavras tão bonitas. Palavras que, por si só, são um olhar tranquilizador e solidário. Palavras repletas de alívio, partilha, ternura.
Daí, esta quase cumplicidade com o papel. É uma espécie de encontro aprazível com as palavras, deixando que elas saiam de mim nascidas de um lugar que, como diria Bernardo Soares, "se pudesse pensar, pararia." Sim, claro, o coração. Que poucos sabem ler. Que, raramente, poucos sabem sentir. E é, talvez, esta certeza - esta lucidez - que me afasta, muitas vezes, das pessoas e me aproxima do papel.
Ele sabe que não são só palavras o que escrevo. Intui, percebe que as palavras são sinais. Umas vezes, que tudo me dão e tudo me trazem; outras, de tudo o que me deram... tudo me falta.
É tudo uma questão de perspectiva - dirão. Será...
No entretanto, vou colocando no papel as minhas palavras, o meu silêncio, a minha alma.

AMS