"Confesso que, até hoje, vivi"
Cara amiga AnaNão sei nem tenho jeito para a escrita, mas cá vai uma palavra simples que reflecte o que me alvoroça neste momento.
Sei bem o que é estar frustrado, maltratado, ignorado no que toca ao nosso profissionalismo e dedicação do dia-a-dia profissional, etc., etc., etc.. Não será com a " nossa ida ao tapete " que vamos responder de forma eficaz, mas temos que manter a cabeça fria para pensar e sobreviver no meio de tudo isto.
Quando era mais pequeno, julgava conseguir mudar o mundo. Hoje, sei que não consigo porque o Mundo está nas mãos dos assaltantes do poder, enquanto nós não estivermos dispostos a ir para lá cumprir, de forma correcta e melhor, com as nossas obrigações totais. Apesar disto, também não me conformo nem acomodo, mas já tentei dar o meu contributo partidário. É uma mafia total e eu vim embora para não ser igual. Não foi cobardia! Foi seriedade, honestidade, etc..
No meio de tudo o que vejo e no meio da tua " raiva incontida ", que eu compreendo na descrição do teu bom texto, encontro a minha tranquilidade e paz de espírito por forma a ter a certeza de que não devemos perder a nossa lucidez e, muito menos, dar o que temos de melhor pelo egoísmo de alguns energúmenos e assaltantes diversos.
Em tempos, uma amiga dizia-me que " Quando as couves nascem são para todos " e eu, depois de muita conversa, disse-lhe que era verdade, mas com um pequeno acrescento do tipo - " Quando as couves nascem são para todos os que as plantam " . Ficou muito ofendida e foi à vida dela conversar com António Gedeão. Nunca mais disse nada. É pena eu hoje pensar assim. Foram os outros que me " melhoraram " a postura. " Aprendi ".
Fartei-me de plantar couves para os outros e, por vezes, fiquei sem comer. Ninguém se importou. Sem forças, tive que as plantar para mim. Ninguém me ajudou. Aprendi a caminhar no meio da " selva ", pois aprendi a manter a cabeça fria na maior parte das vezes. Só assim consigo controlar esta minha ansiedade como diz o cantor António Variações.
É importante tudo isto para sermos capazes de não nos deixarmos cegar com as fogueiras dos pretensiosismos diversos dos outros. Esses pretensiosismos com que nos tentam queimar.
O tempo é bom conselheiro. Lutemos na vida, mas de olhos abertos. Desafiemos os idiotas e todos os abutres, no dia-a-dia, com a qualidade do nosso trabalho e sem permitir que dela tirem dividendos para si. Esses, terão que ser nosso. Assim venceremos. Não é para nos suplantarmos aos outros, mas para vivermos com a dignidade que os outros nos tentam tirar. Sei que é difícil, porém é bom tentar, pois saborearemos a vitória final.
Lembra-te do seguinte : para mim, a vida é um longo somatório. Quanto melhor for esse somatório, melhor ela será. Elimina os erros e os pontos negativos.
Nunca esqueças que para saborear o sol temos que saber apreciar a chuva. Quanto a esta, usa o guarda-chuva. Quanto ao sol, vai para a praia na sua companhia e deixa-te ser saboreada por ele - na paz do bem e da tranquilidade - na companhia da tua toalha. Só assim conseguirás forças para dar aos teus alunos o que eles esperam e merecem de ti. Isto sim, isto é viver e eu posso dizer-te, como escreveu Pablo Neruda - Confesso que, até hoje, vivi!
Por agora, deste coleccionador, calma. Um beijinho. Continua.
Sempre a considerar,
Alves