domingo, junho 11, 2006

Quase morte

O mundo está curvado ao peso de uma mediocridade com toque de tragédia. Estamos todos desassombrados, apáticos, indiferentes ao que nos rodeia. Tanta falta de escrúpulos. Tanta hipocrisia. Tanta falta ao dever e tanta entrega a um marasmo consciente que não oferece futuro. Tanto navegar pelas águas turvas do desencanto. Tanta falta de ternura nos olhos que nos cercam.
Os homens têm falta de sol. Já não sabem florir a vida. Têm medo. Todos têm medo e fogem. E os poetas que não nasceram já morreram, porque em cada rua, em cada olhar a solidão cresce mais confirmada. E o amor foi despejado na sarjeta a que se generalizou chamar lugar-comum.
Viva o egoísmo. O individualismo. Esta existência pacífica - e tão aclamada - que dá vergonha. Condecoremos os que se alimentam das nossas frustrações e da nossa cobardia. Aplaudamos os que, nos seus discursos, defendem o nivelamento da imbecilidade colectiva, anónima e desconsolada.
As crianças morrem de fome. Os adultos defendem-se assistindo a jogos de futebol, recusam o bom-senso e fingem não ver, no escuro, homens esventrando caixotes de lixo. A noite sucede ao dia. A mudança é uma miragem. A esperança não passa de uma metáfora.
Nunca as flores nascerão no cimento ácido da indiferença.

AMS