segunda-feira, outubro 16, 2006

Meu Deus, livra-me de mim

Namorar é bom! Namorar faz bem à saúde, ao coração e ao ego. Mesmo quando se trata de um amor esquivo, fugaz, com a existência ténue da respiração, sem estrelas nem pegadas deixadas atrás de si. Apenas a lembrança frágil e vaga das horas felizes, as únicas que contam, as realmente vividas.
O tempo viaja na minha cabeça e, por um momento, deixo de ser quem sou e transformo-me na adolescente que fui. Curioso, como alguém disse - e bem - não sinto saudade das pessoas que amei. Do que sinto saudade é da parte de mim que levaram com elas.
Stendhal escreveu que o amor é belo, mas isso todos nós sabemos e sentimos. Os apaixonados são belos e caminham sobre uma nuvem. Os seus olhos brilham. Há algo de inefável que passa de um corpo para o outro e que os arrasta para o centro do mundo.
E, novamente, a visão daquela adolescente invade os meus pensamentos. Uma adolescente banal, com uma paixão que ela cria única, diferente, especial. Não eram precisas palavras. Entre eles era sempre perto. Bastava sentarem-se de mãos dadas, sorrindo. Nas mãos estavam as almas misturadas. Um mundo fundindo-se no outro. Calados os dois. Mas não era o silêncio que partilhavam, era outra coisa, era a certeza de que ninguém se queria mais e de que o tempo protegeria o seu amor.
Decididamente, fico-me com a nostalgia de uma iniciação, o sortilégio do que foi, a ternura de algo que pousou, com doçura, na minha vida.
E a adolescente parte, novamente, para as colinas das lembranças guardadas. Desaparece, esquecida na sombra da intimidade. Sem conseguir vivenciar aqui o seu amor. Ou melhor, dissimulando-o na perplexidade do próprio amor.

”Quem me livra deste amor que não escolhi? Meu Deus, livra-me de mim.” (Pedro Paixão)

AMS