terça-feira, fevereiro 13, 2007

¡QUÉ ME DICES!

Acabaram-se as férias! Resta-nos o consolo de poder pensar que, para o ano, poderá haver mais. Ou não. Resta-nos, ainda, um doce sabor a “bem bom” e uma certa nostalgia situada na lembrança do que foi… mas acabou.
Como tantos outros portugueses - a crise a isso nos obriga - deixei-me de patriotismos, meti no saco das boas intenções o desajustado slogan “faça férias cá dentro” e abalei rumo a terras de Espanha. Vida mais barata. Gasolina mais barata. Bronzeado mais barato. E que invasão de portugueses! Raro, quase surrealista, era ouvir falar espanhol. A nossa língua e as nossas marcas habituais encontravam-se por todo o lado. Colchões de praia multicolores. As habituais raquetes e as partidas à beira-mar. O famigerado tapa-vento. Os pindéricos guarda-sóis do Continente. A tradicional merenda em detrimento dos parcos “barquillos”. E os palavrões! Família portuguesa que se preze não resiste a este tipo de vocabulário vernáculo, ajustado às mais variadas situações: quando as criancinhas vão para a água antes do tempo; perante um punhado de areia atirado por pés incautos; face ao olhar guloso do chefe de família mirando - e remirando - esbeltas sereias que se passeiam, formosas e seguras, pela praia… Enfim, aventuras e (des)venturas de um povo marinheiro e conquistador.
Não julgue, porém, o leitor que esquecíamos o que se passava na nossa querida pátria. Sabíamos que o país ardia; que o nosso primeiro gozava umas mais que merecidas férias no Quénia. E descanso de político - não um qualquer político, claro. Modelo clássico - "salvador de pátrias". Dos que tudo prometem e... depois vê-se... - é sagrado; que bombeiros exaustos e mal equipados combatiam, árdua e dolorosamente, o fogo; que, embora nos tenhamos abastecido de submarinos, não possuíamos um avião de combate às chamas, preferindo alugá-los a privados; que…; que…; que…! Confesso que me vi, algumas vezes, em situações mais ou menos complicadas, tentando explicar aos nuestros hermanos o motivo por que Portugal é o único país do sul da Europa sem frota, investindo, contudo, em material militar pesado.
Decididamente, somos, como escreveu Eça, um povo triste, amarelecido, politiqueiro, contentando-nos com uma azeitona, olhando o céu, que é bonito… Sempre os mesmos rostos. Sempre os mesmos políticos. Sempre os mesmos candidatos. Sempre os mesmos oportunistas.
Estarei a exagerar? Suponho que não. Falta-nos vontade. Garra. Raiva. Ousadia. Mudança. Somos, efectivamente, um povo sofredor. E o pior, meus amigos, é que nos habituámos a uma dose diária de sofrimento e de inércia.
Senão, vejamos o que se passa com os espanhóis. Não é só uma questão de mentalidade, é uma questão de estratégia. Quem se aborrece vendo televisão, em terras de Espanha? Ninguém. Caras e sorrisos para todos os gostos e idades. Desde a família real e a sua recente doña Letízia - só não suporto aquele Jaime de Marichalar que tira do sério qualquer um com o seu mau gosto e bizarria - passando pela duquesa de Alba - pobre matriarca que se perde entre confirmações e desmentidos! Mais agitada do que a sua nobre prole só mesmo a dos Grimaldi... - pela baronesa de Thyssen, Fran Rivera, Rocio Jurado, Belén Esteban, Campanário, Chenoa, Paulina Rúbio, etc., etc., etc., até acabar na espertíssima Eugenia Martínez de Irujo e no guapo Gonzalo Miró, há de tudo e para todos os gostos. Aliás, os programas informativos seguiam, fielmente, este esquema - breves notícias sobre os acontecimentos nacionais e internacionais, algum desporto e - Eugenia deixa Fran; Eugenia vai para Ibiza com Gonzalo; Eugenia viaja para Marrocos com Miró; Miró acompanha Eugenia à Toscânia; Eugenia beija Gonzalo; Gonzalo vai estudar cinema para os States; Fran pede o divórcio; Fran, abatido, é ferido por um touro - que ironia!; Eugenia…; Gonzalo… ; Gonzalo…; Eugenia…
Esta azáfama noticiosa ocorria em quase todos os canais e a todo o momento: de manhã, à tarde e à noite. Quem pode ter um ar cinzentão e aborrecido com estas constantes novidades? Ora… A tal de Eugenia, duquesa de Montoro, é, efectivamente, uma sortuda. Dizem. Aos 37 anos - bem vividos e esculpidos - conquista o solteiro de ouro, o “menino” da moda, o galã deste verão - Gonzalo Miró, 24 anos, sem profissão definida. Emendo, profissão bem definida - famoso! Porquê? E interessa?!
Isto, caros leitores, é Espanha. Sem o nosso D. Duarte, é certo. Mas com um Gonzalo Miró que veio demonstrar-nos que não é preciso ter quase 81 anos e candidatar-se pela terceira vez à presidência para se ser famoso e publicitado em todos os meios de comunicação. Com a agravante do octogenário não deixar a suspirar os corações femininos - refiro-me, obviamente, ao insistente Soares. O tal que é fixe. Ou era. O outro, o Miró, não sei se é fixe. Sei, isso sim, que é muy guay e muy… listo.
¿Qué me dices?

AMS